domingo, 14 de dezembro de 2008

As primeiras lembranças

Olga começou a registrar suas memórias em julho. Acompanhe quais foram as recordações que lhe ocorreram:

"O3 de julho de 2008.

Vou começar a escrever minhas lembranças hoje.
Conto seguidamente a meus filhos ou outras pessoas, principalmente da nova geração, fatos e acontecimentos de minha vida e noto o interesse com que me .escutam. Várias pessoas já me disseram que eu deveria escrever um livro para registrar estes fatos . Resolvi aceitar a sugestão.

Minha infância.

Olga Nedel – filha de Vicente Nedel e Clotilde Englert Nedel e irmã de Doralice.

O falecimento de minha mãe quando eu tinha apenas 5 anos, foi o primeiro marco de minha vida.
Lembro-me que no dia do velório que foi na residência de minha avó Malvina Englert, na Rua Garibaldi, em Porto Alelgre, onde estávamos morando e onde minha mãe vinha tendo os cuidados de minha tia Hilda, apelidada de Dada, ao entrar na sala onde minha mãe estava no caixão, eu peguei uma flor do recinto e a coloquei ao lado dela. Notei que todas as pessoas ao redor se emocionaram e começaram a chorar. Fiz aquele gesto muita naturalmente e na minha inocência não entendi aquela reação. Alguém então carinhosamente me retirou da sala.

As lembranças que tenho anteriores a este dia são poucas e confusas, mas não dolorosas e angustiantes.

1.- Eu era muito magra quando criança e eu fazia um tratamento com injeções fortificantes que eram aplicadas pela Dada. Um dia resolvi pedir que minha mãe fizesse a injeção para não chorar. Depois de muito relutar minha tia me levou ao quarto de minha mãe, que estava acamada, e lembro-me que ela me falou que não poderia me fazer a injeção. Como continuei insistindo, minha tia me colocou a seu lado na cama e a injeção foi aplicada. Até hoje não sei quem realmente me aplicou a injeção... , mas não chorei e saí satisfeita pela minha vitória.

2 – Certo dia minha mãe que estava acamada me abraçou muito carinhosamente e me disse: Quando eu estiver no céu com os anjos obedece bem à Dada.

3.- A família Englert era muito católica, com hábitos religiosos. Todas as noites, após o jantar, nos reuníamos para fazer orações, que eram feitas em frente a um oratório com uma vela acesa. No tempo que minha mãe estava acamada estas orações eram feitas no quarto e lembro-me perfeitamente da figura de meu pai segurando uma vela e todos nós ajoelhados, rezando ao redor.

Minha Madrinha Tia Hildegard.

Depois que minha mãe faleceu minha madrinha me falou: Olguinha, eu sou tua madrinha e de agora em diante tu irás comigo para a nossa fazenda em São Francisco de Paula durante o veraneio.
Passei dois veraneios com a família Gaston Englert dos quais tenho ótimas lembranças.

1.- A viagem que fazíamos para a serra era uma verdadeira aventura.
Dois veículos, uma caminhonete e um ônibus, abertos dos lados, levavam as famílias Gaston Englert e Rodolfo Bins , mais de vinte pessoas e bagagens, para o destino. Lembro-me que embarcávamos de madrugada, ainda escuro e frio, todos entrouxados e cobertos com mantas, as crianças sentadas no meio dos bancos e os adultos nos lados para nos proteger e aquecer, uma vez que o vento entrava por todos os cantos.
A estrada para lá era rudimentar, atravessava fazendas e riachos.
Havia trechos com pedregulhos ou barro, quando era necessário colocar correntes nos pneus para não atolar. Seguidamente todos nós tínhamos que apear do ônibus para diminuir o peso e assim conseguir atravessar aqueles lugares barrentos e escorregadios. Quando atravessávamos um riacho respingava água por todos os lados e a ordem era: “ Levantem os pés! “

2.- A chegada, à tardinha, era uma verdadeira vitória!
A casa da fazenda era bem simples, de madeira, com um grande avarandado ao redor, com vários quartos para acomodar toda a família. As camas bem macias, com colchões de palha! O banheiro único, sem água corrente, com uma grande gamela, onde tomávamos banho ás quartas-feiras e sábados. Lembro-me da boa sensação da água quentinha que alguém derramava sobre minhas costas!

3.- Sentia-me muito feliz nesta casa com todos os meus sete primos. Eu era a mais nova de todos, tratada com muito carinho e proteção. Brincávamos o dia inteiro naquele espaço imenso, no alto da serra, nas coxilhas, onde o único limite era o céu. Brincávamos de bola, pegar, esconder, sapata e até de rezar missa. Fazíamos todo o ritual e até tomávamos a comunhão que era representada por uma pétala de hortência. Mais sensacional era o dia de soltar pandorga. Meus primos faziam belas e coloridas pandorgas e quando havia vento, à tardinha, íamos todos ao alto da coxilha para soltá-la. O fio era tão comprido que a pandorga ficava a perder de vista. Então escrevíamos BILHETINOS PARA ENVIÁ-LOS AO CÉU, que eram colocados no cordão e subiam com o vento, junto com a pandorga. Eu realmente acreditava que eles chegavam lá!!!!

4.- Minha primeira injustiça de que fui vítima, que nunca esqueci, aconteceu quando brincávamos de esconder nos arredores da casa. Era regra do jogo não passar pela casa para chegar ao “ferrolho” em primeiro lugar e assim ser a vencedora. Aconteceu que cheguei antes de todos, com muita vantagem e estava feliz por minha façanha. Então ninguém acreditou que eu tivesse chegado tão cedo sem ter passado pelo interior da casa. Todos me acusaram de mentirosa e eu não pude provar o contrário!!!! Eu não tinha passado pela casa!!!!!! Jamais esqueci esta primeira injustiça!!!!"

5.- Muito esperados eram os dias de churrasco. Na véspera havia grande movimentação na fazenda, quando se carneava uma ovelha e todos se envolviam com os preparativos: uma grande mesa era armada no pátio para acolher os muitos comensais. Ao redor de 40 pessoas se sentavam à mesa para comer o saboroso churrasco e as deliciosas sobremesas : várias compotas de frutas, sagu de uva, ambrosia e o imbatível doce de leite. Acompanhava a refeição o refresco feito de vinho tinto com água e açúcar que certa ocasião deixou minha irmã, com sete anos, bastante tontinha......

6.- Eu esperava com ansiedade a visita de meu pai que ia mais tarde passar uma semana conosco. Uma ocasião ele trouxe um balanço e uma barra de ginástica que foram instalados no avarandado da casa e que eram muito requisitados. Como eram meus, eu me sentia muito poderosa entre meus primos, pois comandava o uso dos mesmos, naturalmente com muita sabedoria..... Meu pai também trazia as famosas latinhas de balas azedinhas da Neugebauer que ele distribuia para a turma toda e que eram muito apreciadas.



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