sábado, 26 de setembro de 2009

E o livro foi lançado!










Foi na noite de 31 de julho de 2009, em um salão do Restaurante Baumbach, em Porto Alegre, que o livro "Rua Garibaldi, 1085 - Vivências de Olga Nedel Schlatter" foi lançado. Presentes na festa filhos, genros, noras e netos de Olga, Doralice Martinewski e família, Carmen Englert e José Fernando Luce e Helga Bins Luce. Honrando as tradições da família (por sinal, registradas em várias passagens do livro), foram apresentadas horas de arte, misturando muita emoção, humor, imagens, memórias e versos.
Confira algumas imagens da festa, feitas pelo fotógrafo Rodrigo Lorandi.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Mais da Garibaldi

RÁPIDAS DA RUA GARIBALDI.

1.- Certa ocasião quando eu estava ajudando minha tia a arrumar os livros recebi um poderoso tapa na boca. Até hoje não sei o que falei para merecer aquela reação.....

2.- Outra ocasião quando arrumávamos um armário no depósito, ouvi um grito estridente da minha tia. Perguntei do que se tratava e ela gritou: uma barata! Levei um tal susto que toda minha vida fiquei com um trauma e jamais consegui matar um destes “ferozes” insetos!

3.- Depois do almoço, hora da sesta, tínhamos que deitar na cama e dormir. Como eu não tinha sono, ficava o tempo todo olhando para o teto, contando as taboinhas do telhado e imaginando coisas....

4.- O rádio Mende, que estava na sala, era muito importante! Ao meio dia e à noite meu pai ouvia as notícias, o Repórter Esso. Nós tínhamos permissão de escutar a rádio-novela das 6 horas: O Vingador. Também podíamos escutar música certos horários. Eu ficava torcendo que tocassse algo com o cantor Bing Crosby, meu cantor predileto. Gostava muito das marchinhas e sambas que tocavam no Carnaval. Cada ano eram lançadas novas composições carnavalescas que eram tocadas várias vezes. Até hoje sei cantá-las!

5.-Inesquecível foi para mim o dia que chegou a primeira geladeira em casa. Fiquei excitada quando chegou o caminhão e fiquei rodeando e certamente atrapalhando os homens que a instalaram, dando explicações sobre o funcionamento. Era americana, branca, lustrosa, cheia de garrafas e potes coloridos. Foi um grande acontecimento e uma mudança de hábitos, pois começaram a aparecer os gostosos sorvetes caseiros.

6.- Todas as sextas- feiras, como mandava a Santa Madre Igreja, não se comia carne. De manhã cedo passava pela rua o “peixeiro” gritando : Peixe, peixe! , oferecendo o resultado de sua pescaria no rio Guaíba. Comprávamos então uma grande piava que era muito bem temperada e assada no forno. A intenção da Igreja era fazer sacrifício, mas para mim era motivo de pecaminosa gula, pois gostava muito daquele cardápio!
Lembro-me de uma sexta-feira quando a Odada, minha tia avó, foi levada ao pronto socorro para retirar uma grande espinha que tinha ficado atravessada na garganta! Desde aquela ocasião tomo meus cuidados ao comer peixe e prefiro, naturalmente, somente o filé!

7.- Três vezes por semana passava pela rua o “verdureiro” com a sua carroça cheia de verduras e frutas muito frescas. Seguidamente eu ia com minha tia para a rua escolher as frutas e verduras que mais gostava. Era também a hora da conversa com as vizinhas!

8.- Houve a época em que as janelas da casa se mantinham fechadas. No tempo da Segunda Guerra Mundial, em 1944, quando o Presidente Getúlio Vargas proibiu falar alemão em todo o território nacional e como minha avó e minha tia sempre falavam alemão entre si, pois tinham sido alfabetizadas nesta língua na “Marienschule”, escola da Comunidade São José, fundada e mantida pelos imigrantes alemães, tínhamos medo de sermos escutados pela vizinhança, pois as pessoas de origem alemã eram denunciadas e poderiam até serem presas por falarem esta língua. Vivemos então uma época de medo e discriminação racial que nos tirou toda a naturalidade e liberdade de expressão , apesar de sermos brasileiros e anti-nazistas!

9.- Dia marcante para mim foi o dia da entrada da PENICILINA em nossa casa. Minha vó estava acamada com uma infecção irreversível e o seu médico sugeriu um tratamento com o novo e milagroso antibiótico, descoberto pelos pesquisadores ingleses Fleming e Florey, já usado na Europa durante a Segunda Guerra Mundial que já poderia ser importado para o Brasil, depois do término da Guerra em 1945. Como sua aquisição era muito cara, a família foi reunida e sua aquisição foi autorizada.
O dia da chegada do remédio foi inesquecível para mim, pois consistiu num ritual, tanto na aplicação do medicamento com na sua conservação, pois deveria ser conservado na geladeira o que muito me impressionou, pois ali só se conservavam alimentos. O novo produto da geladeira ficou num lugar especial e nobre, como se fosse uma verdadeira jóia, o que realmente era pela sua raridade e valor.

10.-A casa era muito freqüentada por médicos que faziam as visitas e consultas domiciliares regularmente. O Dr. Waldemar Job, o cardiologista e médico de família, era o que mais aparecia, principalmente para atender minha vó. Era um verdadeiro ritual a sua chegada, pois minha vó se preparava e o esperava na sala de visitas onde se processava a consulta. Outras ocasiões vinha também o Dr. Guerra Blessmann, cirurgião e grande autoridade da medicina, que me impressionava por sua figura majestosa e risada característica. Para atender as crianças, minha irmã e eu, era chamado o nosso vizinho, o pediatra Dr Carlos Hofmeister, que nos tratava com um carinho especial pelos apelidos de Ógula e Rosalinda. Nos fundos de nossa casa, na Rua Barros Cassal, morava o Dr. Weber que era chamado em casos de urgência e que chegava a pular o muro que separava nossos jardins, para chegar mais depressa. Até hoje sinto uma sensação de bem-estar ao me lembrar do carinho e amizade que estes médicos traziam ao entrar em nossa casa.

O número era 1.085, a rua, a Garibaldi

NOSSA CASA NA RUA GARIBALDI, 1085

Nossa casa estava situada na rua Garibaldi entre a Av. Independência e Osvaldo Aranha. Possuía 2 andares, 2 áreas internas e 1 pátio nos fundos.
No andar superior ficavam todos os principais cômodos da casa: Sala de visitas, sala de jantar, cozinha, dormitórios e banheiro.
De frente para a rua tinha uma sacada arredondada bem espaçosa com um conjunto de mesa e cadeiras de vime, que era muito aprazível e onde ficávamos seguidamente conversando e observando o movimento da rua. Especiais eram as noites de São João quando nossos vizinhos da frente soltavam fogos de artifício com estrelinhas coloridas, um espetáculo inesquecível para mim!
A sala de jantar, espaçosa , com janelas que davam para a área interna, era o lugar de reunião da família. Todas as refeições aconteciam na grande mesa com 6 até 12 pessoas. Usavam-se diariamente louça apropriada e talheres de prata que eram devidamente lustrados todos os sábados.

Todas as refeições eram iniciadas e terminadas com uma pequena oração. Eram fartas, mas bem balanceadas. O almoço consistia de uma sopa, saladas, pratos quentes e a indispensável sobremesa. O café da manhã e a ceia eram mais simplificados com pão, frios e algum complemento quente à noite. Naquele tempo não se falava em colesterol ou triglicerídeos, comiam-se ovos, farináceos, carne, peixe, galinha, tudo preparado com banha e manteiga à vontade. Aliás, até hoje, qualquer prato preparado com manteiga é o meu preferido. Sigo os três segredos da saborosa culinária francesa que são: manteiga, manteiga e manteiga! E sigo também a recomendação de um médico nutricionista que diz: “Coma de tudo, mas não tudo!”

No andar inferior estavam a garagem, uma sala de estar e de estudos, com uma grande parede repleta de fotografias da família, dependências de empregada, um dormitório, um quarto de brinquedos, um dormitório de hóspedes, a lavanderia com sala de costura, um depósito com armários e prateleiras diversas.
As áreas internas eram muito agradáveis e frescas no verão. Numa delas havia uma grande prateleira de 3 andares, repleta de vasos de plantas as quais minha tia costumava regar todos dias à tardinha. Sinto até hoje o agradável e refrescante perfume de terra e plantas recém molhadas que se espelhava por toda a casa pelas janelas abertas!
Num canto estava um grande vaso com um pinheiro alemão que todos os anos, em dezembro, era colocado para dentro e enfeitado para o Natal. Ficava lindo e faiscante com os enfeites que brilhavam sob o efeito das velas acesas.
A outra área interna estava coberta por uma viçosa e generosa parreira que produzia lindos e gostosos cachos de uva Niágara. Meu pai cuidava muito bem dela, podando-a e colhendo aquelas uvas deliciosas que eram muito disputadas e degustadas uma a uma. Até hoje é meu tipo de uva preferida, certamente por me reportar à infância.

O pátio dos fundos era muito aproveitado, principalmente por nós, minha irmã e eu, pois ali brincávamos de tudo que tínhamos direito.
Do pátio subia uma escadaria que dava para o terraço dos fundos onde eram os dormitórios. Este terraço era todo ladeado por uma trepadeira de flores rosa também cuidada por meu pai que cuidava de todo o jardim. Ficou famoso um mamoeiro, o primeiro de Porto Alegre, que ele cultivou a partir de sementes trazidas do Rio de Janeiro pelo meu tio Gaston, deputado federal, que comia mamão no hotel, uma novidade na época. O mamoeiro cresceu rapidamente, ficou muito alto, de tal maneira que foi instalada uma escada no seu tronco para poder colher os gostosíssimos e numerosos mamões que ele produziu. Até hoje adoro mamão, como diariamente esta saudável fruta!

Depois que minha mãe faleceu meu pai resolveu abrigar na nossa casa vários familiares para nos proporcionar um ambiente caloroso e nos rodear do amor dos parentes que assim poderiam tornar menos dolorosa a nossa perda.
Passaram a morar conosco minha avó Malvina Englert, sua filha a tia Hilda (Dada), então já viúva, que foi nossa segunda mãe e mais o outro filho, tio José Carlos, solteiro. Com esta inteligente resolução, meu pai conseguiu proporcionar a nós duas, Doralice e eu, um ambiente muito animado. Com o fato de nossa avó morar conosco nossa casa tornou-se o lugar de encontro da Família Englert. Eram 8 irmãos e seus numerosos filhos, ao todo umas 30 pessoas de todas a idades que vinham visitar seguidamente a mãe e avó.

Lembro-me especialmente dos domingos quando a casa enchia de parentes após a Missa das nove horas que todos costumavam assistir na Igreja São José. Os homens costumavam se reunir na sala de visitas, atapetada, encortinada, com sofá e poltronas confortáveis, uma escrevaninha com várias gavetas chaveadas e com um armário cheio de livros misteriosos e proibidos..Lá ficavam somente os homens que, fumando charutos e deixando a sala toda enfumaçada, falavam de política, mulheres e outros assuntos proibidos para crianças.

Eram especiais os dias em que comparecia meu tio Gaston Englert, Deputado Federal, que vinha com as novidades e fofocas políticas quentinhas do Rio de Janeiro. Era a época do Getúlio Vargas, político mais nomeado nas conversas!
Esta sala ficava no fundo de um corredor, separada por uma cortina e eu costumava ficar escondida atrás dela para escutar estas conversas que eu achava muito mais interessantes do que as faladas pelas mulheres, reunidas na sala de jantar e cujo assunto era “cri-cri” (criança e criada). Como era de esperar, certa vez minha tia me pegou escondida atrás da cortina e recebi o merecido “corridão e carão”!

A criançada., os muitos primos de várias idades, ficavam brincando no andar de baixo onde estava nosso quarto de brinquedos e no pátio onde se jogava bola, caçador, sapata, etc.
Também a calçada em frente à casa era lugar de distração, principalmente para andar de bicicleta a qual pertencia a Doralice e que comandava o espetáculo, pois a fila dos candidatos era grande e precisava ser organizada a vez de cada um. Como nossa casa ficava no meio da quadra, no princípio da lomba, cada um podia dar uma volta até o fim da rua para então se posicionar novamente na fila e esperar sua próxima vez. Passávamos horas nesta brincadeira!!!

Em seguida era a hora do almoço, muito caprichado aos domingos. O prato principal era em geral preparado com as 2 galinhas que no dia anterior eram mortas com uma torcida de pescoço, depenadas e devidamente limpas para serem assadas no forno.. Os miúdos e ossos eram aproveitados durante a semana para fazer canja, risoto ou outros quitutes. Acompanhava o assado a massa feita em casa, purê de batatas , verduras diversas como couve-flor, aspargos frescos, cenoura, ervilha, etc. , tudo regado com a “manteiguinha” derretida e tostada que vinha à mesa numa leiterinha especial. Fazia parte do cardápio uma salada de batata rodeada de alface e tomate. Muito esperada era a sobremesa que variava a cada domingo: Ovos moles em taças, ambrosia, doce de leite, pudim de pão com molho de vinho, salada de fruta com creme de baunilha, sagu de uva com leite gelado, etc.

Não é preciso ressaltar que tínhamos sempre duas empregadas que praticamente faziam parte da família, pois moravam na nossa casa, nos ajudavam em tudo e eram muito bem tratadas! Além destas trabalhava em casa a lavadeira Luiza que vinha duas vezes por semana: segundas feiras para lavar e quartas feiras para engomar e passar as roupas que ficavam lindas e cheirosas!
Ao redor das quatro da tarde era a hora de dar uma volta de carro pela cidade. No Chevrolet preto meu pai nos levava a passear, seguidamente no Country Club onde caminhávamos pelo campo de golfe e pelos matinhos onde comíamos frutas silvestres.

Outro lugar que freqüentávamos era o Parque da Redenção onde tinha um mini-zoo. O que eu mais apreciava eram as aves e patinhos que se encontravam num grande viveiro com um laguinho e frondosas árvores. Gostava de ver aquelas brancas aves pernaltas caminhando com suas pernas finas ou descansando numa perna só ou empoleiradas nas árvores.. Os macaquinhos também me chamavam atenção, sempre se movimentando e fazendo acrobacias. Achava muito divertido observar os peixes que disputavam as migalhas de pão que atirávamos no lago maior.
Antes de voltar para casa meu pai ia observar as obras do Riacho Ipiranga que estava sendo canalizado e buscar a correspondência no Correio, um belo prédio com escadaria de mármore, na Praça da Alfândega, no centro da cidade.

Também íamos seguidamente, à tardinha, na Praça da Matriz no Auditório Araújo Viana onde a Orquestra de Porto Alegre fazia concertos na bela concha acústica. Ficávamos caminhando ou sentados nos bancos daquele lugar aprazível ao som das sonoras músicas.
Também agradável era o passeio que fazíamos na caixa dágua no bairro Moinhos de Vento. Os grandes tanques de água formavam espelhos que refletiam o bem cuidado jardim com frondosas árvores e canteiros floridos.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Nos bancos escolares

Minha primeira escola foi COLÉGIO NOSSA SENHORA MEDIANEIRA, dirigido por irmãs Franciscanas, ao lado da Igreja São José, na rua Alberto Bins, Porto Alegre. Esta Igreja pertence à Comunidade São José fundada por imigrantes alemães e dirigida pelos Padres Jesuítas que também dirigiam a Escola São Roque, destinada ao ensino de meninos.

Sempre gostei de freqüentar a escola. Sempre fui curiosa, inquieta, saliente. Gostava de aprender e me sociabilizar. Participava ativamente dentro da sala de aula, perguntando, respondendo. Sentávamos em bancos escolares com lugar para quatro alunas Ficar todo o tempo sentada era para mim muito esforço. Antes de qualquer manifestação devíamos apontar o dedo para então sermos autorizadas a falar. Como eu vivia me levantando para chamar a atenção, atrapalhando as colegas, certo dia a professora me disse: “Já que levantas para qualquer coisa vou mudar teu lugar para a última fila.” Fiquei feliz e lembro-me que passava grande parte da aula em pé, encostada na parede dos fundos. |Ninguém mais reclamou!

Também vivia pedindo licença para tomar água. No pátio coberto, num canto, havia um filtro com água fresquinha e refrescante. Lembro-me da agradável sensação que dava na minha garganta!

Os recreios eu costumava aproveitar o máximo! Uma turma de alunas sempre jogava caçador, formavam-se rapidamente os times e como eu era considerada uma boa jogadora, pois pegava todas as bolas, eu era a primeira a ser escolhida. Esquecia-me até de comer a merenda.

A partir da 4ª série primária, passei a estudar no COLÉGIO BOM CONSELHO, tb. pertencente às Irmãs Franciscanas.

Adaptei-me rapidamente à nova escola, continuando a ser participativa e saliente. Havia atividades extra-curriculares de cunho religioso: no primário a “Liga do Menino Jesús” e no ginásio a “Ação Católica” das quais eu fazia parte, sempre na diretoria. Então um dia a Irmã que coordenava estas atividades me chamou para falar com ela na Secretaria. Queria convidar-me para entrar na Ordem. Ao seu convite eu respondi: “Gostaria de ser freira somente se eu for Madre!” Ela prontamente me respondeu: “Então não tens vocação!”.

Fiquei feliz e aliviada, pois assim pude afastar de minha cabeça qualquer pensamento sobre o assunto!

As duas irmãs


Esta imagem estará no livro:
Olga e Doralice na flor da idade.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

O nome da Olga

Confira mais um trecho das memórias de Olga Nedel Schlatter:

"O nome OLGA.

Fui chamada de OLGA, em homenagem a minha tia-avó OLGA ENGLERT, irmã do meu avô Luiz Englert. Nós a chamávamos de ODADA.

Ela era uma senhora solteira, rica, muito culta e viajada. A Família Englert morava em uma mansão, a VILA OLGA, situada no bairro Moinhos de Vento onde hoje é o Jardim Cristófel. Esta casa era rodeada por um grande jardim e possuía uma cancha de tênis cujo esporte a tia Olga praticava. Também a Família Alberto Bins possuía ali uma bela mansão.

A casa dos Englert pegou fogo certa ocasião, devido a fagulhas vindas da caixa d`água que caíram sobre o telhado. A casa ficou totalmente destruída de tal maneira que minha mãe, então uma menina em idade escolar, foi abrigada pelas Irmãs Franciscanas que possuíam uma casa e pequena escola, o Colégio Bom Conselho, onde minha mãe estudou.

Em nossa casa da rua Garibaldi ficaram guardados alguns copos de cristal retorcidos que foram retirados dos escombros.

Lembro-me desta tia Olga, já idosa, que morava no Sanatório São José, em São Leopoldo, pertencente às Irmãs Franciscanas, a qual visitávamos aos domingos. Lá visitávamos o tambo de leite e brincávamos no pátio interno onde havia uma ala de belas palmeiras e sempre batia um vento à tardinha.

A tia Olga, quando vinha a Porto Alegre, ficava em nossa casa na Rua Garibaldi.. Ela era quase surda e usava uma espécie de fone no ouvido que possuía um bocal na ponta de um fio de extensão e no qual tínhamos de falar bem alto. Ela também entendia muito coisa , “lendo nos lábios”, como se dizia. Como minha avó Malvina também não escutava muito bem, acostumei-me a falar alto e devagar como falo até hoje, o que foi muito útil para a minha profissão de professora de Língua Inglesa.....

A Odada era muito religiosa. Lembro-me de uma ocasião, quando estava conosco na Rua Garibaldi, ela queria presentear um sobrinho neto com um livro e pediu para minha prima Ellen comprá-lo. Quando examinou o livro que tratava de uma história de índios com ilustrações, não gostou dos índios nus e então mandou minha prima pintar com tinta um calção nas figuras indecentes...."

domingo, 14 de dezembro de 2008

Imagens da memória

Na foto acima, Clotilde e Vicente em 1927. Na imagem abaixo, Doralice e Olga em 1934.

As primeiras lembranças

Olga começou a registrar suas memórias em julho. Acompanhe quais foram as recordações que lhe ocorreram:

"O3 de julho de 2008.

Vou começar a escrever minhas lembranças hoje.
Conto seguidamente a meus filhos ou outras pessoas, principalmente da nova geração, fatos e acontecimentos de minha vida e noto o interesse com que me .escutam. Várias pessoas já me disseram que eu deveria escrever um livro para registrar estes fatos . Resolvi aceitar a sugestão.

Minha infância.

Olga Nedel – filha de Vicente Nedel e Clotilde Englert Nedel e irmã de Doralice.

O falecimento de minha mãe quando eu tinha apenas 5 anos, foi o primeiro marco de minha vida.
Lembro-me que no dia do velório que foi na residência de minha avó Malvina Englert, na Rua Garibaldi, em Porto Alelgre, onde estávamos morando e onde minha mãe vinha tendo os cuidados de minha tia Hilda, apelidada de Dada, ao entrar na sala onde minha mãe estava no caixão, eu peguei uma flor do recinto e a coloquei ao lado dela. Notei que todas as pessoas ao redor se emocionaram e começaram a chorar. Fiz aquele gesto muita naturalmente e na minha inocência não entendi aquela reação. Alguém então carinhosamente me retirou da sala.

As lembranças que tenho anteriores a este dia são poucas e confusas, mas não dolorosas e angustiantes.

1.- Eu era muito magra quando criança e eu fazia um tratamento com injeções fortificantes que eram aplicadas pela Dada. Um dia resolvi pedir que minha mãe fizesse a injeção para não chorar. Depois de muito relutar minha tia me levou ao quarto de minha mãe, que estava acamada, e lembro-me que ela me falou que não poderia me fazer a injeção. Como continuei insistindo, minha tia me colocou a seu lado na cama e a injeção foi aplicada. Até hoje não sei quem realmente me aplicou a injeção... , mas não chorei e saí satisfeita pela minha vitória.

2 – Certo dia minha mãe que estava acamada me abraçou muito carinhosamente e me disse: Quando eu estiver no céu com os anjos obedece bem à Dada.

3.- A família Englert era muito católica, com hábitos religiosos. Todas as noites, após o jantar, nos reuníamos para fazer orações, que eram feitas em frente a um oratório com uma vela acesa. No tempo que minha mãe estava acamada estas orações eram feitas no quarto e lembro-me perfeitamente da figura de meu pai segurando uma vela e todos nós ajoelhados, rezando ao redor.

Minha Madrinha Tia Hildegard.

Depois que minha mãe faleceu minha madrinha me falou: Olguinha, eu sou tua madrinha e de agora em diante tu irás comigo para a nossa fazenda em São Francisco de Paula durante o veraneio.
Passei dois veraneios com a família Gaston Englert dos quais tenho ótimas lembranças.

1.- A viagem que fazíamos para a serra era uma verdadeira aventura.
Dois veículos, uma caminhonete e um ônibus, abertos dos lados, levavam as famílias Gaston Englert e Rodolfo Bins , mais de vinte pessoas e bagagens, para o destino. Lembro-me que embarcávamos de madrugada, ainda escuro e frio, todos entrouxados e cobertos com mantas, as crianças sentadas no meio dos bancos e os adultos nos lados para nos proteger e aquecer, uma vez que o vento entrava por todos os cantos.
A estrada para lá era rudimentar, atravessava fazendas e riachos.
Havia trechos com pedregulhos ou barro, quando era necessário colocar correntes nos pneus para não atolar. Seguidamente todos nós tínhamos que apear do ônibus para diminuir o peso e assim conseguir atravessar aqueles lugares barrentos e escorregadios. Quando atravessávamos um riacho respingava água por todos os lados e a ordem era: “ Levantem os pés! “

2.- A chegada, à tardinha, era uma verdadeira vitória!
A casa da fazenda era bem simples, de madeira, com um grande avarandado ao redor, com vários quartos para acomodar toda a família. As camas bem macias, com colchões de palha! O banheiro único, sem água corrente, com uma grande gamela, onde tomávamos banho ás quartas-feiras e sábados. Lembro-me da boa sensação da água quentinha que alguém derramava sobre minhas costas!

3.- Sentia-me muito feliz nesta casa com todos os meus sete primos. Eu era a mais nova de todos, tratada com muito carinho e proteção. Brincávamos o dia inteiro naquele espaço imenso, no alto da serra, nas coxilhas, onde o único limite era o céu. Brincávamos de bola, pegar, esconder, sapata e até de rezar missa. Fazíamos todo o ritual e até tomávamos a comunhão que era representada por uma pétala de hortência. Mais sensacional era o dia de soltar pandorga. Meus primos faziam belas e coloridas pandorgas e quando havia vento, à tardinha, íamos todos ao alto da coxilha para soltá-la. O fio era tão comprido que a pandorga ficava a perder de vista. Então escrevíamos BILHETINOS PARA ENVIÁ-LOS AO CÉU, que eram colocados no cordão e subiam com o vento, junto com a pandorga. Eu realmente acreditava que eles chegavam lá!!!!

4.- Minha primeira injustiça de que fui vítima, que nunca esqueci, aconteceu quando brincávamos de esconder nos arredores da casa. Era regra do jogo não passar pela casa para chegar ao “ferrolho” em primeiro lugar e assim ser a vencedora. Aconteceu que cheguei antes de todos, com muita vantagem e estava feliz por minha façanha. Então ninguém acreditou que eu tivesse chegado tão cedo sem ter passado pelo interior da casa. Todos me acusaram de mentirosa e eu não pude provar o contrário!!!! Eu não tinha passado pela casa!!!!!! Jamais esqueci esta primeira injustiça!!!!"

5.- Muito esperados eram os dias de churrasco. Na véspera havia grande movimentação na fazenda, quando se carneava uma ovelha e todos se envolviam com os preparativos: uma grande mesa era armada no pátio para acolher os muitos comensais. Ao redor de 40 pessoas se sentavam à mesa para comer o saboroso churrasco e as deliciosas sobremesas : várias compotas de frutas, sagu de uva, ambrosia e o imbatível doce de leite. Acompanhava a refeição o refresco feito de vinho tinto com água e açúcar que certa ocasião deixou minha irmã, com sete anos, bastante tontinha......

6.- Eu esperava com ansiedade a visita de meu pai que ia mais tarde passar uma semana conosco. Uma ocasião ele trouxe um balanço e uma barra de ginástica que foram instalados no avarandado da casa e que eram muito requisitados. Como eram meus, eu me sentia muito poderosa entre meus primos, pois comandava o uso dos mesmos, naturalmente com muita sabedoria..... Meu pai também trazia as famosas latinhas de balas azedinhas da Neugebauer que ele distribuia para a turma toda e que eram muito apreciadas.



Largada

Este blog é uma ferramenta para ajudar na redação e edição do livro "Garibaldi, 1085" (nome provisório), que pretende contar a história (ou, pelo menos, algumas histórias) de Olga Nedel Schlatter e sua família, especialmente seus pais, Vicente e Clotilde.
O título faz referência à casa que Vicente construiu, logo depois de casar, na Rua Garibaldi, 1085, em Porto Alegre.
Além do testemunho de Olga, o livro vai contar com informações obtidas a partir de pesquisas e de entrevistas. À medida que estas entrevistas forem sendo feitas, serão transcritas em estado bruto neste blog e estarão abertas à consulta. Qualquer lembrança, questão, pergunta ou detalhe que estas entrevistas despertem serão bem-vindas - basta colocar um comentário nos posts.
Nos próximos posts, já vamos publicar parte do depoimento de Olga e algumas imagens.