domingo, 8 de fevereiro de 2009

Mais da Garibaldi

RÁPIDAS DA RUA GARIBALDI.

1.- Certa ocasião quando eu estava ajudando minha tia a arrumar os livros recebi um poderoso tapa na boca. Até hoje não sei o que falei para merecer aquela reação.....

2.- Outra ocasião quando arrumávamos um armário no depósito, ouvi um grito estridente da minha tia. Perguntei do que se tratava e ela gritou: uma barata! Levei um tal susto que toda minha vida fiquei com um trauma e jamais consegui matar um destes “ferozes” insetos!

3.- Depois do almoço, hora da sesta, tínhamos que deitar na cama e dormir. Como eu não tinha sono, ficava o tempo todo olhando para o teto, contando as taboinhas do telhado e imaginando coisas....

4.- O rádio Mende, que estava na sala, era muito importante! Ao meio dia e à noite meu pai ouvia as notícias, o Repórter Esso. Nós tínhamos permissão de escutar a rádio-novela das 6 horas: O Vingador. Também podíamos escutar música certos horários. Eu ficava torcendo que tocassse algo com o cantor Bing Crosby, meu cantor predileto. Gostava muito das marchinhas e sambas que tocavam no Carnaval. Cada ano eram lançadas novas composições carnavalescas que eram tocadas várias vezes. Até hoje sei cantá-las!

5.-Inesquecível foi para mim o dia que chegou a primeira geladeira em casa. Fiquei excitada quando chegou o caminhão e fiquei rodeando e certamente atrapalhando os homens que a instalaram, dando explicações sobre o funcionamento. Era americana, branca, lustrosa, cheia de garrafas e potes coloridos. Foi um grande acontecimento e uma mudança de hábitos, pois começaram a aparecer os gostosos sorvetes caseiros.

6.- Todas as sextas- feiras, como mandava a Santa Madre Igreja, não se comia carne. De manhã cedo passava pela rua o “peixeiro” gritando : Peixe, peixe! , oferecendo o resultado de sua pescaria no rio Guaíba. Comprávamos então uma grande piava que era muito bem temperada e assada no forno. A intenção da Igreja era fazer sacrifício, mas para mim era motivo de pecaminosa gula, pois gostava muito daquele cardápio!
Lembro-me de uma sexta-feira quando a Odada, minha tia avó, foi levada ao pronto socorro para retirar uma grande espinha que tinha ficado atravessada na garganta! Desde aquela ocasião tomo meus cuidados ao comer peixe e prefiro, naturalmente, somente o filé!

7.- Três vezes por semana passava pela rua o “verdureiro” com a sua carroça cheia de verduras e frutas muito frescas. Seguidamente eu ia com minha tia para a rua escolher as frutas e verduras que mais gostava. Era também a hora da conversa com as vizinhas!

8.- Houve a época em que as janelas da casa se mantinham fechadas. No tempo da Segunda Guerra Mundial, em 1944, quando o Presidente Getúlio Vargas proibiu falar alemão em todo o território nacional e como minha avó e minha tia sempre falavam alemão entre si, pois tinham sido alfabetizadas nesta língua na “Marienschule”, escola da Comunidade São José, fundada e mantida pelos imigrantes alemães, tínhamos medo de sermos escutados pela vizinhança, pois as pessoas de origem alemã eram denunciadas e poderiam até serem presas por falarem esta língua. Vivemos então uma época de medo e discriminação racial que nos tirou toda a naturalidade e liberdade de expressão , apesar de sermos brasileiros e anti-nazistas!

9.- Dia marcante para mim foi o dia da entrada da PENICILINA em nossa casa. Minha vó estava acamada com uma infecção irreversível e o seu médico sugeriu um tratamento com o novo e milagroso antibiótico, descoberto pelos pesquisadores ingleses Fleming e Florey, já usado na Europa durante a Segunda Guerra Mundial que já poderia ser importado para o Brasil, depois do término da Guerra em 1945. Como sua aquisição era muito cara, a família foi reunida e sua aquisição foi autorizada.
O dia da chegada do remédio foi inesquecível para mim, pois consistiu num ritual, tanto na aplicação do medicamento com na sua conservação, pois deveria ser conservado na geladeira o que muito me impressionou, pois ali só se conservavam alimentos. O novo produto da geladeira ficou num lugar especial e nobre, como se fosse uma verdadeira jóia, o que realmente era pela sua raridade e valor.

10.-A casa era muito freqüentada por médicos que faziam as visitas e consultas domiciliares regularmente. O Dr. Waldemar Job, o cardiologista e médico de família, era o que mais aparecia, principalmente para atender minha vó. Era um verdadeiro ritual a sua chegada, pois minha vó se preparava e o esperava na sala de visitas onde se processava a consulta. Outras ocasiões vinha também o Dr. Guerra Blessmann, cirurgião e grande autoridade da medicina, que me impressionava por sua figura majestosa e risada característica. Para atender as crianças, minha irmã e eu, era chamado o nosso vizinho, o pediatra Dr Carlos Hofmeister, que nos tratava com um carinho especial pelos apelidos de Ógula e Rosalinda. Nos fundos de nossa casa, na Rua Barros Cassal, morava o Dr. Weber que era chamado em casos de urgência e que chegava a pular o muro que separava nossos jardins, para chegar mais depressa. Até hoje sinto uma sensação de bem-estar ao me lembrar do carinho e amizade que estes médicos traziam ao entrar em nossa casa.

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